Nosso grupo de pesquisa tem a alegria de anunciar o lançamento do livro
de poesia de um dos seus membros, Francisco Alves, Professor de Literatura
Brasileira na UFRR e no momento doutorando do Poslit/UnB, sob orientação do Prof.
Dr. João Vianney.
"Poemas Urbanóides e Ruídos noturnos" foi lançado
em Roraima e em breve será lançado também em Brasília. O prefácio desta linda
obra foi feito por outra participante do LitCultUnB, Julliany Mucury, também
doutoranda do Poslit.
Convidamos
a todos para adentrar o oceano poético de Francisco, pelos olhos de Julliany:
"Francisco Alves vem
agridoce em seus ruídos poéticos. Neste registro de uma vida inventada, ou não,
pelo poeta, há o avanço no tempo da experimentação do outro. A poesia de Chico
é um tratado de alteridade vivida na carne, nos resquícios de uma troca intensa
de fluídos e frustrações. Versos livres, ensaios de haikai, confissões do
íntimo de um eu-lírico humano, demasiadamente humanizado pela crueza das dores.
Exercício contínuo de busca, em estado constante de pulsão de vida e morte, eis
que o(s) sexo(s) pulsa(m). O que vemos aqui é a transmutação poética do sujeito
líquido de que nos fala Bauman, poesia contemporânea e atemporal, um eu que
arde em desejo e fúria. Neste frenesi, vemos o rebaixamento bakhtiniano que vai
ao encontro da estética dos beatnicks, as palavras não se desviam de seu
intento, todo o baixo corporal vem representado naquilo que tem de pueril e
grotesco.
A poesia de Francisco cheira a
sexo e é no amanhecer dos amantes ou no pós-coito que encontramos o sujeito
fragmentado e estraçalhado pela truculência desta troca. Perder-se na troca.
Chico é troca. Quando expõe-se num conjunto de poemas de métricas e rimas
variadas, expõe também o drama de ser tão homem, ser tão carnal, na dicotomia
entre o dentro e o fora, no choque entre razão e sentimentalidades. Objetos e
natureza perfazem o cenário dessa viagem dentro do eu, amplo e restrito, vemos
recortes de estadas. Escatológico e livre, o sujeito ousa no cruzamento do
gesto, ousa no outro, ousa no grito de uma solidão extrema.
Em seus poemas Francisco arde.
Esta febre vai se revelando ao leitor em cada poema, começando no íntimo do
nós, que migra para o eu, na aridez dos espaços ocos, de um espaço interior
maculado, machucado, sangue e suor, dor e resignação. Essa angústia existencial
vem desde o berço: “porque antes de nascer já temos dívida / e não adianta
viver entre comida / chupeta ou calção”, o sujeito que aqui dialoga é este
mesmo que evoca a poesia como redenção, mas sabe que é intento de Sísifo,
tarefa contínua e árdua que não cessa. Que nada responde. Que chateia. A
primeira parte do livro assim termina, entramos em “Poemas do esquecimento
vivo”, deixando “Ruídos noturnos” na sua dormência, pois ainda ressoa.
Tatiana Capaverde já traz a nota
do que este livro-resgate significa, no impossível esquecimento vivo o poeta
adentra a seara da travessia, o poeta e o eu-lírico estão num lugar: o Norte.
Neste novo pedaço de Chico os poemas tem nome, tem batismo, mais centrados e
concentrados que estão no relato. A transição entre dois tempos são vistos
aqui. Temos sujeitos, transes, trânsitos e estâncias de viver diversas e
complementares em si. A poesia do todo assim se define: “Sufocantes palavras
encontro as vezes / estou sempre às margens de teus lábios / o braço também é
torto, o homem meio, / partitura de sons línguas e trezes!”, neste trecho do
poema Meio Homem. O livro é o entremeio, o sujeito que abre as entranhas e
colhe do mundo toda a dor da coragem do salto, com direito a um “Anexo
rebelde”, em que mais poemas, de mais um outro sujeito, conversam conosco.
Francisco salta, cai e fratura os ossos das canelas, mas continua se
arrastando, sempre em frente, com a boca repleta da poeira dos descaminhos.
Evoé, poeta."
Nos
despedimos hoje com um poema do livro:
“É
tanta gente enfiando
machado no cu
e
falando de amor
ao
mesmo tempo!
Ficar
mundo é ser mais gente
calado
nunca come cru,
Devore
a torre, a igreja, o corpo e a flor.
Casamento?
Silêncio,
por favor,
que tento
apenas
enfiar o anel nos dentes.
Eita
canseira
destes
ovos progressistas,
ruralistas,
comodistas
tradicionalistas,
de
todos
até
destes com tiques gregos
mundo
desmundo
tempo
sem
fundo
união é
tudo
menos
amor e desapego!
É tanta
gente...
(repetidamente
em
todos os lugares
até nas
covas)
enfiando
machados no cu
e
falando de amor
ao mesmo tempo!”
Como não ler, depois desse aperitivo? =D
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