segunda-feira, 3 de abril de 2017

Nosso grupo de pesquisa tem a alegria de anunciar o lançamento do livro de poesia de um dos seus membros, Francisco Alves, Professor de Literatura Brasileira na UFRR e no momento doutorando do Poslit/UnB, sob orientação do Prof. Dr. João Vianney.

 "Poemas Urbanóides e Ruídos noturnos" foi lançado em Roraima e em breve será lançado também em Brasília. O prefácio desta linda obra foi feito por outra participante do LitCultUnB, Julliany Mucury, também doutoranda do Poslit.




Convidamos a todos para adentrar o oceano poético de Francisco, pelos olhos de Julliany:

"Francisco Alves vem agridoce em seus ruídos poéticos. Neste registro de uma vida inventada, ou não, pelo poeta, há o avanço no tempo da experimentação do outro. A poesia de Chico é um tratado de alteridade vivida na carne, nos resquícios de uma troca intensa de fluídos e frustrações. Versos livres, ensaios de haikai, confissões do íntimo de um eu-lírico humano, demasiadamente humanizado pela crueza das dores. Exercício contínuo de busca, em estado constante de pulsão de vida e morte, eis que o(s) sexo(s) pulsa(m). O que vemos aqui é a transmutação poética do sujeito líquido de que nos fala Bauman, poesia contemporânea e atemporal, um eu que arde em desejo e fúria. Neste frenesi, vemos o rebaixamento bakhtiniano que vai ao encontro da estética dos beatnicks, as palavras não se desviam de seu intento, todo o baixo corporal vem representado naquilo que tem de pueril e grotesco.
A poesia de Francisco cheira a sexo e é no amanhecer dos amantes ou no pós-coito que encontramos o sujeito fragmentado e estraçalhado pela truculência desta troca. Perder-se na troca. Chico é troca. Quando expõe-se num conjunto de poemas de métricas e rimas variadas, expõe também o drama de ser tão homem, ser tão carnal, na dicotomia entre o dentro e o fora, no choque entre razão e sentimentalidades. Objetos e natureza perfazem o cenário dessa viagem dentro do eu, amplo e restrito, vemos recortes de estadas. Escatológico e livre, o sujeito ousa no cruzamento do gesto, ousa no outro, ousa no grito de uma solidão extrema.
Em seus poemas Francisco arde. Esta febre vai se revelando ao leitor em cada poema, começando no íntimo do nós, que migra para o eu, na aridez dos espaços ocos, de um espaço interior maculado, machucado, sangue e suor, dor e resignação. Essa angústia existencial vem desde o berço: “porque antes de nascer já temos dívida / e não adianta viver entre comida / chupeta ou calção”, o sujeito que aqui dialoga é este mesmo que evoca a poesia como redenção, mas sabe que é intento de Sísifo, tarefa contínua e árdua que não cessa. Que nada responde. Que chateia. A primeira parte do livro assim termina, entramos em “Poemas do esquecimento vivo”, deixando “Ruídos noturnos” na sua dormência, pois ainda ressoa.
Tatiana Capaverde já traz a nota do que este livro-resgate significa, no impossível esquecimento vivo o poeta adentra a seara da travessia, o poeta e o eu-lírico estão num lugar: o Norte. Neste novo pedaço de Chico os poemas tem nome, tem batismo, mais centrados e concentrados que estão no relato. A transição entre dois tempos são vistos aqui. Temos sujeitos, transes, trânsitos e estâncias de viver diversas e complementares em si. A poesia do todo assim se define: “Sufocantes palavras encontro as vezes / estou sempre às margens de teus lábios / o braço também é torto, o homem meio, / partitura de sons línguas e trezes!”, neste trecho do poema Meio Homem. O livro é o entremeio, o sujeito que abre as entranhas e colhe do mundo toda a dor da coragem do salto, com direito a um “Anexo rebelde”, em que mais poemas, de mais um outro sujeito, conversam conosco. Francisco salta, cai e fratura os ossos das canelas, mas continua se arrastando, sempre em frente, com a boca repleta da poeira dos descaminhos. Evoé, poeta."


Nos despedimos hoje com um poema do livro:

“É tanta gente enfiando
 machado no cu
e falando de amor
ao mesmo tempo!
Ficar mundo é ser mais gente
calado nunca come cru,
Devore a torre, a igreja, o corpo e a flor.
Casamento?
Silêncio, por favor,
que tento apenas
 enfiar o anel nos dentes.
Eita canseira
destes ovos progressistas,
ruralistas, comodistas
tradicionalistas,
de todos
até destes com tiques gregos
mundo desmundo
tempo
sem fundo
união é tudo
menos amor e desapego!
É tanta gente...
(repetidamente
em todos os lugares
até nas covas)
enfiando machados no cu
e falando de amor
ao mesmo tempo!”

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