quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Visões do texto, de Luciano Ponzio - prefácio por João Vianney Cavalcanti Nuto


UMA SEMIÓTICA DIALÓGICA

João Vianney Cavalcanti Nuto[1]

            O que “significa” uma obra de arte? Como podemos compreendê-la em sua especificidade artística? O que uma composição artística nos convida a “ver”? Luciano Ponzio discute esta complexa questão a partir da noção de texto artístico como texto de afiguração ou escritura. Seguindo os conceitos da Semiótica – privilegiando o pensamento de Peirce, mas sem deixar de dialogar com a Semiologia de Barthes e reflexões de pensadores como Lévinas, Deleuze, Merleau-Ponty, Blanchot, entre outros –, este livro parte da concepção de texto como qualquer organização de signos (verbais ou de qualquer outra natureza) dotada de sentido. Para analisar as características e efeitos do texto artístico, Luciano Ponzio distingue a forma de composição e as potencialidades de sentido dos textos elaborados esteticamente (textos de afiguração), em contraste com os textos voltados para a comunicação pragmática (textos de representação). Partindo da dicotomia, proposta por Bataille, entre olhar e visão, o autor dialoga com Peirce e Lévinas, observando certa relação uma duplicidade do signo icônico com o seu referente, em que esse tipo de signo não apenas aponta para o referente, mas se transforma, de certa maneira, em seu duplo (o que não quer dizer cópia), em um processo de afiguração que extrapola a função de representação. Esse transbordamento afigurativo é que amplia – invocando as concepções de Bataille – o olhar, gerando a visão. Seguindo a concepção de Lévinas, Ponzio define o texto de escritura (ou de afiguração) como aquele que ultrapassa a remissão ao significado convencionado.

Ao longo de todo o livro, Ponzio trava um diálogo com Mikhail Bakhtin ao associar os conceitos de representação e afiguração com a classificação dos gêneros do discurso em primários (da vida quotidiana) e secundários (de elaboração mais complexa, oriundos de relações sociais mais formalizadas). Por esta distinção, os textos pragmáticos de circulação quotidiana são textos primários, de significação unívoca, fechada; já os textos artísticos, dos mais densos entre os textos secundários, permitem uma multiplicidade de sentidos, que transcende o momento histórico de sua produção e a própria relação com as circunstâncias biográficas de seu autor. A partir dessa distinção, Ponzio concentra suas reflexões nas características do texto artístico, com base no princípio de que o complexo permite elucidar melhor o simples; e também, concordando com Kierkegaard, com a noção de que a aparente simplicidade de certas composições artísticas não é espontânea, mas laboriosamente alcançada.
            
           Contudo a distinção entre texto comum e texto artístico não implica, de maneira alguma, uma abordagem formalista. Não se trata – como no Formalismo Russo – de apontar uma essência imanente do artístico pelo contraste puramente formal com o não artístico. Seguindo a visão dialógica – em que Bakhtin é uma referência constante – Luciano Ponzio tem sempre em mente a concepção discursiva de enunciado, ainda que utilize muito mais a palavra “texto”. Trata-se de analisar o texto não apenas como uma composição formal, mas como um ato – e uma potencialidade de ato, já que uma composição textual prevê a geração de sentidos diversos em futuras leituras, sendo somente por meio de sua realização como discurso que a composição textual ganha sentido.
           
            O diálogo com Mikhail Bakhtin conjuga-se com outra presença marcante em Visões do texto, como artista e pensador: Kazimir Malevitch. Ao analisar a arte de Malevitch, com a teorização do artista sobre a própria obra, o Suprematismo, Ponzio reflete sobre o processo de afiguração como transbordamento do signo icônico em relação ao referente. A pintura, como texto de escritura, não visa a simplesmente representar o “real” na tela, mas a recriá-lo. Assim, a afiguração pictórica cria uma nova realidade, cuja relação com o referente representado pode ser muito tênue, ou mesmo ausente, em que a visão do autor-artista transfigura o olhar do autor-pessoa. Cabe ao contemplador do texto de afiguração compreender a visão (em termos de Mikhail Bakhtin, o objeto estético) da arquitetônica da obra, em vez de detectar, na obra, o objeto do olhar, pois isso, quando possível, deturpa a afiguração, reduzindo-a à representação. A representação de um cachimbo na tela não é um cachimbo, como adverte o famoso quadro de Magritte; por outro lado, cobrar do autor-artista a confirmação verbal de que “isto é um galo” (ironia de um personagem de D. Quixote com a notória incompetência de um pintor), é querer reduzir a visão ao olhar, a afiguração à representação, a alteridade à identidade. Por outro lado, em consonância com Lévinas e Malevitch, Ponzio observa, no texto de afiguração, uma potencialidade performativa, criadora de uma realidade puramente sígnica, que se acrescenta ao mundo representado. Essa potencialidade performativa também têm consequências ideológicas, pois, em vez de simplesmente reproduzir a ideologia estética vigente, o inacabamento do texto de afiguração a põe à prova e a questiona.

Prosseguindo seu diálogo com Bakhtin, Ponzio reflete sobre a responsabilidade ética dos atos gerados tanto na produção quanto na recepção do texto artístico. Por essa reflexão, o autor passa a examinar a responsabilidade específica do texto de escritura. Para o Ponzio, os textos primários envolvem a responsabilidade que Bakhtin – em Para uma filosofia do ato responsável – denomina “responsabilidade especial”, isto é, uma responsabilidade puramente técnica, o que permite que os textos primários sejam facilmente substituíveis, pois são textos que respondem por funções meramente comunicativas, abrangendo sentidos bem especificados e limitados. Já o texto artístico, por sua densidade estética, envolve uma responsabilidade não transferível a outros textos. A responsabilidade do texto artístico está diretamente ligada à sua abertura semiótica, pois esse tipo de texto não propõe simplesmente transmitir informações, nem oferecer um enigma a ser decifrado, mas, no dizer do escritor Osman Lins, deflagrar sentidos. Trata-se de uma responsabilidade que advém não somente do autor-pessoa (quem escreve e publica), mas daquele elemento intrínseco e fundamental, para a realização das potencialidades do texto artístico, que Bakhtin denomina autor-criador.

Ainda seguindo Bakhtin, demonstra Ponzio que a afiguração só é possível por meio do distanciamento estético (exotopia): o autor-pessoa cria o autor-criador quando, de certa forma, consegue distanciar-se da imersão nas próprias circunstâncias, para assim ter uma visão global, uma arquitetônica, que ultrapasse a mera representação do objeto. É esse distanciamento, com o excedente de visão que dele resulta, é que permite a crítica à ideologia automatizada nos textos de representação.

Ciente de que uma obra só se realiza plenamente em processo dialógico, Ponzio chama a atenção para o fato de que um texto de afiguração (texto de escritura) pode ter seu potencial empobrecido por uma leitura primária, aquela que busca, em um texto de escritura, somente a representação, leitura redutora que contamina até mesmo certas abordagens críticas; leitura que reduz a obra de arte ao transferi-la para o mundo dos objetos, já que o sentindo artístico transcende a pura função pragmática, em um transbordamento estético que pode ser encontrado até mesmo em certos utensílios. Seria, portanto uma traição à riqueza artística de uma obra lê-la buscando o sentindo unívoco de um texto de representação, o que equivale também a reduzir sua responsabilidade plena à responsabilidade técnica. Contudo, isto não significa que o autor defenda a contemplação da obra artística como pura fruição, associando-a diretamente à noção de “arte pela arte”. A riqueza e densidade de sentidos de uma obra implica uma relação entre arte e vida, que, segundo Bakhtin, não é mimética, mas ética. O leitor do texto artístico deve responder ativamente à experiência estético-ética, incorporando-a à própria vida (não necessariamente de maneira direta e pragmática), em vez de adotar a postura puramente hedonista de fruidor. Igualmente em diálogo com Bakhtin, Ponzio defende que a contemplação artística não é mera “recepção” – termo que implica uma noção de simples transferência de um sentido completamente dado – mas compreensão responsiva. Compreender, neste caso, não é apenas assimilar o texto, mas estabelecer uma relação dialógica em que a alteridade do leitor lhe agregue sentidos potenciais.  Trata-se, portanto, de (utilizando um termo de Bakhtin), tornar-se autor-contemplador.

As reflexões semióticas de Visões do texto ultrapassam a noção de texto como mero tecido de signos, como sistema abstraído das interações da vida social- limitação de uma visão estruturalista que Bakhtin critica – em função de um estudo da linguagem que contemple a enunciação. Ao privilegiar a dimensão interpretativa da Semiótica de Pierce em diálogo com o pensamento de Bakhtin – demonstrando que as reflexões de Bakhtin sobre o texto verbal também se aplicam a outros meios semióticos – Luciano Ponzio nos oferece uma semiótica que explica o fenômeno do texto artístico em seu dialogismo. Uma semiótica dialógica. 



[1] Professor Adjunto de Teoria da Literatura da Universidade de Brasília (UnB)
Coordenador do Grupo de Pesquisa Literatura e Cultura da Universidade de Brasília (UnB)

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Os riscos do riso

João Vianney Cavalcanti Nuto


"Concedo que esta comida venha a ser de certo modo cara e, portanto, estará muito adequada aos senhorios - e dado que estes já devoraram a maior parte dos pais, poderão ter direito de preferência sobre os filhos." (Jonathan Swift)

Em 1729, um panfleto anônimo - cuja autoria, se verificou mais tarde, ser de Jonathan Swift - causou indignação em muitos leitores do Reino Unido. A "Modesta proposta para evitar que as crianças da Irlanda sejam um fardo para seu país e seus pais" sugeria o consumo alimentar de crianças como excelente solução para o estado de miséria de grande parte da população irlandesa.

Muitos leitores ingênuos não perceberam o caratér paródico do texto, que satirizava a dominação inglesa na Irlanda. Para isto, seria necessária a capacidade de captar o sentido alegórico do grotesco, como também, o caráter bivocal - segundo Bakhtin - da paródia, seu diálogo irônico com o estilo científico.

Rir nem sempre é fácil, pois há formas de riso que apelam para uma capacidade de interpretação mais sofisticada. É o caso do riso sutil da ironia.

Esse problema será abordado no seminário Risíveis Rumores, do Grupo de Pesquisa Literatura e Cultura, da UnB, conforme os títulos abaixo:

"A leitura da ironia, os risco do riso", de Patrícia Trindade Nakagome;

"Ironia e comicidade no conto 'O segredo de Bonzo'", de Machado de Assis, de Isabel Cristina Corgosinho;

"Aspectos epistemológicos da sátira e da paródia", de Janara Laíza de Almeida Soares;

"O humor como estratégia de linguagem em Os filhos da meia-noite, de Salman Rushdie. No almoço, serão servidas crianças guisadas.

sábado, 5 de agosto de 2017

IV Seminário Nacional de Literatura e Cultura - Risíveis Rumores: dialogias do riso



No IV Seminário Nacional de Literatura e Cultura, o LitCult ri.
O riso (e risível) é o objeto dos trabalhos propostos neste seminário, que fortalece a identidade pesquisadora do grupo. Os diálogos, as leituras, as análises e, sobretudo, os risos compartilhados ao longo do segundo semestre de 2016 e primeiro de 2017 em breve resultarão neste encontro, que mostra que rir é entendimento e resistência. O riso é rebaixamento, redução do ser as suas características mais cruas, mas é também sublime. O riso esconde, na mesma medida em que escancara.
É para este diálogo risível que o grupo convida. Há rumores de que o evento acontecerá no Auditório Verde da FACE – UnB (Campus Darcy Ribeiro), entre os dias 30 de agosto e 01 de setembro. Também dizem as línguas que contará com as presenças ilustríssimas de Beth Brait e Paulo Bezerra e com a apresentação de trabalhos a respeito de variadas literaturas e culturas.
Para confirmar, veja a programação e faça sua inscrição!
Aguardamos sua presença para diálogos e risos.
Até lá!






Fabiana Santos
LitCult-UnB

quinta-feira, 27 de julho de 2017

O desenvolvimento da linguagem da criança numa perspectiva bakhtiniana

Amanda Lucy dos Santos costa

“Esse diálogo entre pais e crianças acontece muito antes de elas pronunciarem suas primeiras palavras”
(Apresentação de Del Ré, De Paula e Mendonça)

Diante do prazeroso dever de observar o crescimento de uma criança, pensar a construção da identidade tem sido um exercício diário. Não por acaso, o reencontro com a “A linguagem da criança: um olhar bakhtiniano”, um compêndio de ensaios enriquecedores organizado pelas escritoras Alessandra Del Ré, Luciane de Paula e Marina Célia Mendonça (publicado pela editora Contexto em 2014), tem sido um feliz momento de (re)aprendizagem, (re)construção e reflexão. Este texto é uma breve releitura apreciativa dos dois primeiros ensaios dessa obra.


O ensaio intitulado “Aquisição da linguagem e estudos bakhtinianos do discurso”, escrito pelas supracitadas organizadoras do livro, baseia-se nos estudos de desenvolvimento da linguagem de Frédéric François, e compartilha da ideia de que “pensar sobre a linguagem da criança contribui para entender o funcionamento da linguagem humana”.
Com base nas teorias do Círculo de Bakhtin, as autoras afirmam que o fato de sermos constituídos pela linguagem e constantemente modificados por ela, ao mesmo tempo em que a constituímos e a modificamos também (cada indivíduo de modo singular), torna impossível a concepção da relação linguagem-cultura por meios meramente léxico-gramaticais. Antes, é preciso verificar a forma como o indivíduo interage com a linguagem e seus variados usos para entender a forma como ela nos modifica.
Esse modo de pensar leva François, em “A linguagem da Criança” (2006) a afirmar a necessidade do desenvolvimento de uma teoria de “funcionamento da linguagem”, na qual seria levada em consideração a translinguística. Esse conceito de translinguística desenvolvido por Bakhtin sugere que a linguagem está além do signo linguístico, dela participando fatores socioculturais extralinguísticos, como contexto de fala, por exemplo.
No caso da linguagem da criança, em especial, não se pode compreendê-la com base na retomada da sua voz pelo adulto. É preciso que a própria criança tenha voz. Segundo as autoras, a criança deve agir e ser encarada como sujeito agente na linguagem, pois a sua linguagem é sua forma única de ver e habitar o mundo. E o enunciado não deve ser desvinculado desse sujeito, seja ele criança ou adulto, pois essa é uma relação dialógica.
Seguindo a proposta de olhar a aquisição da linguagem com os “óculos bakhtininanos”, as autoras definem “língua” como uma capacidade intersubjetiva, sempre vinculada a sujeitos integrantes e por ela integrados. A “fala”, por sua vez, é um ato responsivo quando, concreta e viva, está tomada de ideologia, sendo necessário, para a efetiva comunicação, que se leve em conta sua essência histórica e social.
Também destaca-se a importância do conceito do “excedente de visão” quando se tem a criança como sujeito da enunciação, pois a fala em função do outro é a tomada de consciência não só de si, mas do outro enquanto fator necessário para a sua fala. Ao citar Bakhtin, reafirmam a importância do outro e da sua relação com o outro também na formação das crianças:

É nos lábios e no tom amoroso deles [da mãe e de seus próximos] que a criança ouve e começa a reconhecer seu nome, ouve denominar seu corpo, suas emoções e seus estados internos: as primeiras palavras, as mais autorizadas, que falam dela, as primeiras a determinarem sua pessoa, e que vão ao encontro de sua própria consciência interna, ainda confusa, dando-lhe forma e nome, aquelas que lhe servem para tomar consciência de si pela primeira vez e para sentir-se enquanto coisa-aqui, são as palavras de um ser que a ama. (BAKHTIN, 1997, 67-68)

Também aí está a importância de se observar o funcionamento da linguagem considerando a translinguística, pois esse cruzamento de vozes participa de maneira fundamental para a construção de uma subjetividade/alteridade. (Sobre alteridade e a importância do outro no desenvolvimento da linguagem, há também nesse livro o texto “A retomada da palavra da criança pelos pais”).
A aquisição da língua materna com base na comunicação mãe/bebê, adulto/criança no estágio pré-linguístico é abordada no ensaio seguinte pelas autoras Rosângela Hilário, Luciane de Paula e Rafaela Bueno: “Relações entre Bakhtin e Bruner nos estudos em aquisição”. Ao relacionarem o conceito de gêneros do discurso, de Bakhtin, ao conceito de formato de Bruner, as autoras explicam o como a criança se inicia na linguagem a partir das situações sociais de comunicação.
Fato é que, antes mesmo de entender as palavras, a criança já entende alguns formatos de comunicação com base nas suas relações mais próximas. “A linguagem surge como adicional ao meios não verbais” (BRUNER, 1984, p.76). Dessa forma, a criança vai adaptando, de acordo com sua experiência, os formatos de ação aos atos de fala que os acompanham.
Essa concepção também se aproxima do conceito de enunciado desenvolvido por Bakhtin, pois, como explicam as autoras, o enunciado é composto tanto pela parte verbal “realizada em palavras” quanto pela parte extra-verbal “presumida”. E isso tudo é muito claro na fase inicial da aquisição da linguagem, principalmente na relação mãe/bebê.


Além das conversas casuais, nessa fase, diversos gêneros estão presentes na comunicação adulto/criança: narrativas, cantigas de ninar, contos, jogos lúdicos, parlendas etc... e todo contexto social que os acompanham. De modo que se, ao deitar a criança no berço, por exemplo, a mãe costuma iniciar uma cantiga de ninar, independente da compreensão verbal, presume-se a intenção da fala pelo formato da situação.
As autoras finalizam ratificando que “a inserção da criança no universo de sentido se dá, nessa perspectiva, pelos gêneros, que se integram a formatos rotinizados [...] possibilitando os primeiros usos da linguagem.”
A verdade é que o desenvolvimento da linguagem de uma criança está inteiramente relacionado com a construção de uma identidade. Isso ocorre não apenas na infância, mas o próprio ser humano, em constante processo de (trans)formação, nunca deixa de desenvolver sua linguagem e sua capacidade de se comunicar. A linguagem o constitui e ele constitui a linguagem, fruto de sua essência social/sociável. Por esse motivo, é de suma importância não só promover situações de fala com a criança, ainda que esta esteja em estágio pré-linguístico, mas permitir e estimular a sua expressão espontânea assim como o contato com o outro. À medida que a criança aprende a se comunicar com o outro, seja verbal ou não verbalmente, ela se insere no mundo social e desenvolve sua identidade com base nas relações sociais que estabelece. Então, naturalmente, seu crescimento se dá de modo dialógico e sua fala torna-se um ato responsivo.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Notícias sobre os eventos com o signo LitCultUnB por todo o Brasil

Julliany Mucury


Foi rica a produção de eventos e a participação de nossos membros em todo o país.

O líder do nosso LitCultUnB, o Professor Doutor João Vianney, ministrou palestra de abertura do III Simpósio Nacional de Letras Português, com a mediação de uma aluna membro do grupo que atua na região, a Professora Mestra Lucélia Almeida - UESPI. O evento ocorreu nos dias 21, 22 e 23 de junho, na UESPI, Campos Parnaíba.

Em Brasília, três eventos marcaram semanalmente o cenário de Educação e Literatura:



Entre os dias 26 e 29 de junho o Instituto Federal de Brasília Campus São Sebastião recebeu mais uma edição do Seminário Acadêmico promovido pelo curso de Letras Língua Portuguesa. O IV Seminário Acadêmico de Letras: literatura, linguagem e diversidade contou com a participação de grandes pesquisadores de universidades do país, como a Profª Drª Anna Christina Bentes (Unicamp) e a Profª Drª Regina Zilberman (UFRGS), nas conferências de abertura e de encerramento. Além de sessões de exposição de pôster de alunos de cursos de graduação, alunos e professores de graduação e de pós-graduação nas áreas de Letras e Literatura apresentaram comunicação durante os dias do evento.



Entre os dias 20 a 22 de junho, ocorreu no CEMEIT, em Taguatinga, o II Simpósio de Integração e Cooperação Educativa, que contou com a participação de grandes nomes da Universidade de Brasília - UnB, como a Profa. Dra. Sylvia Cyntrão na abertura e o Prof. Dr. Marcos Bagno no encerramento, com direito a um sarau poético conduzido pelos poetas brasilienses Nicolas Behr e Cristiane Sobral, além de palestra concorrida de Fabrício Carpinejar. Foram três dias de trabalhos intensos, com participação de professores da SEEDF e da UnB, de alunos do CEMEIT e da comunidade de modo geral.


No dia 14 de junho aconteceu o I Seminário de Altas Habilidades/Superdotação do Recanto das Emas. Cerca de trezentas pessoas participaram do evento, a maioria professores da educação básica. A abertura do seminário foi feita pela Profª Flávia Espíndula e contou com a participação do subsecretário de educação Daniel Damasceno, do coordenador regional de ensino do Recanto das Emas, Marcos Antônio Faria, e da escritora Maria Montillarez (ASLAS). Na parte da tarde, a Profª Drª Olzeni Ribeiro (MEC) proferiu a palestra: “Atendimento especializado para estudantes com superdotação: desafios da escola e da família”, sobre um estudo feito com pessoas superdotadas em diferentes faixas etárias. Nos intervalos ocorriam apresentações presnciais e em vídeo dos estudantes do AEE-AH/SD do Recanto das Emas, sob a orientação da professora Ellen Gama.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Um texto para Antonio Candido

João Félix


Escrever um necrológio nunca é tarefa fácil. A pensar em Antonio Candido (1918-2017) as palavras tornam-se ainda mais etéreas. Homem que viveu o século inteiro. Viu todas as transformações por que passou a universidade brasileira, sendo protagonista em quase todas elas. Criador de conceitos fundamentais da teoria e da crítica literária. Investigador infatigável da coisa brasileira. Homem de texto leve e profundo, cuja limpidez era elogiada por todos os seus leitores, Antonio Candido é hoje uma escola.
Sobre ele, muito já se escreveu. Aliás, sobre ele temos a maior fortuna crítica produzida ainda quando ele estava vivo. Está, nesse sentido, pareado a Sílvio Romero, outro autor bastante lido e comentado. Foi por Sílvio Romero que Antonio Candido começou sua carreira universitária, com a tese de livre-docência Introdução ao método crítico de Sílvio Romero. Pouco antes, entre 1941 e 1944, junto com outros nomes, Candido criaria a revista Clima, que reuniria uma massa de intelectuais paulistas em torno de um projeto que consistia em pensar o Brasil a partir (mas não só) de suas fontes europeias, nas mais diversas vertentes, desde o cinema, passando pela sociologia e pela literatura. Foi também nesse tempo que contribuiu com importantes jornais, ajudando a formatar o conceito de crítica literária a partir da imprensa, bem diferente do que se vê hoje nas faculdades de letras mundo afora.
Na década seguinte, Candido escreveria o livro que poderia ser considerado sua obra prima: Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, no qual levou dez anos escrevendo. O aposto explicativo depois do título principal causou, e ainda causa, muito imbróglio interpretativo: trata-se de estudar a literatura brasileira justamente no instante em que ela adquiria, por assim dizer, certa autonomia, quer estética, quer política, de modo a criar “uma continuidade literária”, uma “tradição”, conforme lemos no 1o capítulo. Essa ideia deu margem ao repensamento de inúmeras outras literaturas mundo afora, cujo processo formativo coincidiu com o nosso, isto é, cuja economia fora, ou é considerada “periférica” ou “colonial”. É uma ideia decisiva no contexto das chamadas “culturas locais” – pensando-se em E. P. Thompson, Homi Bhabha, Clifford Geertz, ou dos “orientalismos”, pensando-se em Edward Said, dentre outros, autores fundamentais na virada cultural da segunda metade do século passado – vencendo-se, segundo esses autores entendem, o estigma que a literatura belles letres causou, desde o século XIX, e fortíssimo nos países centrais, e especialmente francófilos como o nosso, passando-se a interpretar a literatura como expressão de um povo na sua ingrata lição de “se pensar”. A literatura, especialmente de países periféricos, é um “motor” tensivo que oscila entre o cosmopolitismo e o localismo, termos caros a todos esses especialistas citados.

Obviamente que não poderíamos deixar de fora ensaios excepcionais, escritos depois dessas duas décadas decisivas, quando Candido inscreve-se como criador da cadeira de teoria literária na USP, e mesmo do curso de letras, cuja existência ainda era errática e sofrível. Ensaios como os que lemos em A educação pela noite, ou em O discurso e a cidade, em Brigada ligeira ou em Tese e antítese. Seu modelo de interpretação da coisa literária a essa altura alcançava voos altos, no Brasil e na América Latina. Sua penetração talvez só não tenha sido maior em virtude de nosso provinciano idioma. A tese de Pierre Bourdieu, por exemplo, exposta com pormenores em As regras da arte, gravita em torno de ideias concebidas por Candido muitos anos antes (claro, sem citá-lo). A dialética que conforma a cultura dos países centrais e dos periféricos (em torno de modelos e réplicas de modelos), concebida por Oswald de Andrade em termos de “antropofagia”, ganharia contornos definitivos na pena de Candido. A dialética dos contrários, exposta com veemência e rigor analítico por Alfredo Bosi, em título similar, Dialética da colonização, também orbita em insights proferidos por ideias de Candido. Para terminar, a radicalização da interpretação machadiana, objeto de vários livros de Roberto Schwarz, também tem conta na folha de Antonio Candido.
A par disso tudo, a política não poderia ser considerada por ele, obviamente, um fator menor na conjuntura de seus escritos. Socialista democrático, Candido participou ativamente da criação do Partido dos Trabalhadores, cujas ideias foram gestadas em coparticipação com Florestan Fernandes, Alfredo Bosi, Francisco Weffort, Francisco de Oliveira, dentre outros. Celso Lafer aponta dois lances de dados na formação política de Candido: a “resistência à opressão” e a “afirmação de uma identidade socialista” (D’INCÃO et SCARABÔTOLO, Orgs., 1992, p. 271). Esses dois eixos comungam com a ideia, anti-estalinista por excelência, de um estado opressor sobre a comunidade dos viventes. Sem entender isso, fica-se no vazio de compreender o pensamento de Candido, visualizando-o como oriundo de algum tipo de utopia irrealizável, alguma política “do ar”, vinda de algum gabinete sem contato com a vida. Candido já havia passado bastante tempo junto aos trabalhadores rurais do Interior de São Paulo, tempo em que construiu sua tese Parceiros do Rio Bonito, um ensaio de etnografia que se centra nos modos de convivência do homem caipira, e cuja ascendência devemos, talvez, aos belos ensaios de Sérgio Buarque de Holanda, de quem Candido sentia especial afeto e “parentesco” ideológico. Daí que a política tenha especial interesse na carreira de Candido fica fácil de compreender: ela redimensiona o eixo literário para a dimensão civilizacional da vida humana.
Candido entende que, no século XX, o homem brasileiro entrou muito cedo na sociedade de massas, consumindo, ao sabor da propaganda mais imediata os produtos descartáveis para ele oferecidos. Sem parâmetros estéticos estáveis adquiridos por educação razoável, este homem, em suas palavras, não lhe teria assegurado os critérios de mediação que outros países conquistaram antes da difusão dos mass media, de modo que, lendo essa crescente mobilização do capitalismo tardio no Brasil, Candido apresenta uma sintomática bastante relevante para o status questionis do país, a partir de 1945, e que continua, infelizmente, bastante atual hoje:
“Os analfabetos eram no Brasil, em 1890, cerca de 84%; em 1920 passaram a 75%; em 1940 eram 57%. A possibilidade de leitura aumentou, pois, consideravelmente. Muito mais, todavia, aumentou o número relativo de leitores, possibilitando a existência, sobretudo a partir de 1930, de numerosas casas editoras, que antes quase não existiam (...) mas este novo público, à medida que crescia, ia sendo rapidamente conquistado pelo grande desenvolvimento dos novos meios de comunicação (...) as tradições literárias começavam a não mais funcionar como estimulante (...) as formas escritas de expressão entravam em relativa crise, ante a concorrência de meios expressivos novos, ou novamente reequipados, para nós, – como o rádio, o cinema, o teatro atual, as histórias em quadrinhos (...) para quem não se enquadrou numa certa tradição, o livro apresenta limitações que aquelas vias superam, diminuindo a exigência de concentração espiritual” (CANDIDO, 2008, p. 144-5).
O texto é longo mas espero ter deixado claro as questões a que se propõe Candido. Sua análise não deixa passar em branco o quanto, dialeticamente, se ganhou estética e politicamente com a introdução dos novos meios discursivos, muito embora, por isso a dialética, se segue uma debandada do meio expressivo, até agora, mais importante em termos de literatura: o livro.
Havia dito no começo que Candido foi alvo de leituras certeiras ao longo da vida. Importa destacar, aqui, que o autor era grato por todas as sugestões e discordâncias que recebeu ao longo da vida. Em tempos dogmáticos como o nosso, trata-se de uma bela lição de honestidade intelectual.
Com Haroldo de Campos, um dos primeiros a escrever sobre o Formação, teve uma discussão a respeito de um dos conceitos capitais do livro, o de “manifestações literárias”, que, como se sabe, atinge claramente autores como Gregório de Matos, especialmente, objeto da dissensão proposta por Campos. Esse mesmo conceito ganha, em outra vertente interpretativa, objeção de João Adolfo Hansen, no seu A sátira e o engenho. Tomando como base dados do regime colonial, Hansen chega à conclusão de que havia um tipo de “sistema” literário proposto pelos escritores do Brasil, com autores, obras e destinatários, o que contradiria a tese de Candido. É interessante notar que Campos foi orientando de doutorado de Candido na USP, o que originou a tese Morfologia do Macunaíma, de cunho estruturalista, contrária, como se sabe aos pressupostos de Candido. Impossível abertura intelectual maior que essa...
Contra Affonso Romano de Sant’Anna produziu um dos textos mais saborosos de sua crítica: “Duas vezes a passagem do ‘dois ao três’”, encontrado hoje em Textos de intervenção. Sobre a análise estrutural proposta por Sant’Anna, Candido opunha um terceiro eixo interpretativo: a sociedade como presente no texto através da redução estrutural, isto é, elementos absorvidos pelo autor e pela mediação da linguagem passam a integrar o texto e, portanto, devem ser levados em conta na hora de catalisar a crítica literária.
Atualmente, o livro Formação ainda ganhou nova polêmica, exposta com vigor analítico por Luís Augusto Fischer, em diversos textos de revistas e jornais. Quando se soube da morte de Candido, o jornal O Estado de São Paulo providenciou uma seleção de textos comentando a obra de Candido, dos quais constava a objeção ainda de “Sistema Literário”, que Fischer opunha questionando por que Candido não havia comparado a literatura brasileira a outras literaturas periféricas, como a norte-americana, ou as latino-americanas, e não, como foi o caso, a de literaturas europeias apenas. Uma omissão algo imperdoável, diria Fischer, porque essas literaturas originaram-se de condições semelhantes às nossas.

Os pontos mencionados servem de baliza às muitas questões que levanta a obra viva de Antonio Candido. A prolífica obra ainda dará seu testemunho aos muitos estudiosos que adentrarem nesta selva selvaggia que é a literatura brasileira contemporânea, ou mesmo, as mais “antigas”, como a colonial, a árcade, a romântica. Estudiosos que consideram a periodização algo importante têm nele forte ascendência. Para aqueles seus fãs, fica a sensação de que Candido ainda poderia falar algo mais; de que muito ele ainda teria a dizer para a análise nos quadros da teoria literária. Como o padre Antonio Vieira, que viveu todo o século XVII, Candido testemunhou tudo o que mudou e o que ficou no Brasil. Vai-se o grande homem. Fica sua grande obra.

Bibliografia mínima para se conhecer Antonio Candido

Do autor:
CANDIDO, Antonio. Brigada ligeira e outros escritos. São Paulo: Edunesp, 1992.
_____. Tese e antítese. Ensaios. 4ed. São Paulo: T.A. Queirós, 2000.
_____. O discurso e a cidade. 3ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004.
_____. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 10ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006.
_____. Literatura e sociedade. Estudos de teoria e história literária. 10ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2008.
_____. A educação pela noite. 6ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.

Sobre o Autor:
LAFER, Celso (Org.). Esboço de figura. Homenagem a Antonio Candido. São Paulo: Duas Cidades, 1979.
D’INCAO, Maria Angela et SCARABÔTOLO, Eloísa Faria (Orgs.). Ensaios sobre Antonio Candido. São Paulo: Cia das Letras/Instituto Moreira Salles, 1992.
PEDROSA, Celia. Antonio Candido: a palavra empenhada. São Paulo: Edusp/Rio de Janeiro: Eduff, 1994.
SERNA, Jorge Ruedas de la (Org.). História e literatura: homenagem a Antonio Candido. São Paulo: Edunicamp/Imprensa Oficial, 2003.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Vendaval

Maria Aline de Andrade Correia

Lady Hamilton como uma bacante, esmalte por Henry Bone (1755-1834, United Kingdom)

Ah, por obséquio, tranquilize-se
Só quero que fique assim, boiando em nuvens,
Passá-lo em grades, esfumaçar tua hipocrisia,
Arrastar até o sangue expelir dos teus seios,
Parvonear tua massa cinzenta com estrelas estalantes
Capaz de estrebucharem a couraça do peito de um passarinho torto (sim, você é torto)
Eu não seria capaz.

Admito que não alcanço nenhum degrau invejável por esforço,
Sou apenas aquela embebida na vida com limitações aquantes
Estar plena de céu decantou as margens e matou a todos.
Aqueles siricuticos pequeninos que me deixastes não adormeceram na estante
Eles resolveram crescer cantantes, esbaforidos e teimosos como você
Ainda assim nenhuma sequela da fatídica manhã tem posto aqui o pé como                      recomendado

À deusa agradeço! Seria admissível dor de um peito ofegante?
Olhe aqui: fuligem do teu cigarro...
Esgar escarlate de um coração intenso não plaina mais nessa casa
Musgos de andorinhas trejeitas resvalam a limpeza de outro pouso
Paz aqui? Você me indagaria
Mas apenas como mímica para um sentimento tão sagaz, mudo

E mais uma afronta aqui me apresento
Por favor, estou desnuda
Em mantos de acolhida corriqueira, ou afagos de base,
Sentimentos tão declarados e tão inconstantes
Miram um rumo em frente para o indeciso narciso.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Tentáculos do LitCultUnB


Nesta quarta-feira, o líder do nosso LitCultUnB, o Professor Doutor João Vianney, vai ministrar a palestra de abertura do III Simpósio Nacional de Letras Português, com a mediação de uma aluna membro do grupo que atua na região, a Professora Mestra Lucélia Almeida - UESPI.

O III Simpósio Nacional de Letras/Português intitulado Estudos de Linguagem: Língua, Literatura e Ensino ocorrerá nos dias 21 a 23 de junho de 2017, no Campus Professor Alexandre Alves de Oliveira da Universidade Estadual do Piauí, na cidade de Parnaíba, com carga horária de 40 horas. O evento tem como objetivo promover um espaço para a reflexão e discussão acerca desses três importantes pilares do curso de Letras, às distintas e diversificadas áreas de estudo e pesquisa que abrangem. Vale ressaltar que tal temática expressa tamanho valor para o corpo discente de Letras e áreas afins, bem como para os docentes dos variados níveis de ensino por apresentar discussões sobre a língua portuguesa, compreendendo suas manifestações literárias, variantes linguísticas, leitura, escrita, ensino e pesquisa.

Mais informações: http://www.simposioletras.com/index.html

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Próximos eventos organizados por membros do LitCultUnB

Em junho/2017 teremos vários eventos voltados para o debate sobre Educação no Distrito Federal, todos coordenados por membros do LitCultUnB, o que nos leva a prestigiar e divulgar com alegria os trabalhos de Kelly Vyanna, com o "I Seminário de Altas Habilidades/Superdotação do Recanto das Emas", a ocorrer no dia 14 de junho; Maxçuny Alves, com o "II Simpósio de Integração e Cooperação Educativa: construindo uma educação igualitária", a ocorrer nos dias 20, 21 e 22 de junho; e Juliana Mantovani, com o "IV Seminário Acadêmico de Letras: literatura, linguagem e diversidade", a ocorrer de 26 a 29 de junho. 

Seguem os cartazes de divulgação e os links de cada evento, todos imperdíveis, para maiores informações:


http://www.altashabilidadesdf.com.br


http://siced-cemeit.blogspot.com.br





quinta-feira, 1 de junho de 2017

"No prelo"

Para este 2017, Paulo Bezerra é nosso convidado para o:

IV SEMINÁRIO NACIONAL DE LITERATURA E CULTURA, 
este ano com o tema do riso sob o título:
"Risíveis Rumores: dialogias do riso".
Reservem as datas: 30, 31 de agosto e 1º de setembro de 2017 na UnB.
Mais informações em breve.

No prelo, seu mais recente trabalho pela Editora 34, a ser lançado também no nosso evento:


Tradução de Paulo Bezerra
Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra
Notas da edição russa de Serguei Botcharov

Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas reúne três textos de Mikhail Bakhtin (1895-1975), escritos no final de sua vida, que representam um verdadeiro "testamento teórico" do autor, como afirma o tradutor Paulo Bezerra em seu posfácio a esta edição.
"A ciência da literatura hoje", de 1970, propõe dar primazia à história da cultura nos estudos literários, no lugar dos condicionantes econômicos e sociais. Nos "Fragmentos dos anos 1970-1971", extraídos de seus cadernos de anotações, Bakhtin repassa os temas que o consagraram, prospectando projetos a serem desenvolvidos no futuro. No texto final, "Por uma metodologia das ciências humanas", publicado em 1975, o autor sintetiza em uma frase um dos motes de sua produção intelectual: "O objeto das ciências humanas é o ser expressivo e falante. Esse ser nunca coincide consigo mesmo e por isso é inesgotável em seu sentido e significado".


Sobre o autor
Mikhail Bakhtin nasceu em 1895 em Oriol, na Rússia. Estudou em Odessa e Petrogrado, foi professor de história, sociologia e língua russa na cidade de Nével, na década de 1910, e liderou um grupo de intelectuais que ficaria conhecido como o Círculo de Bakhtin. Em 1928 foi preso pelo regime de Stálin, mas ainda conseguiu publicar um de seus trabalhos mais importantes, Problemas da obra de Dostoievski (1929). Condenado a um campo de trabalhos forçados, teve a pena comutada para o degredo no Cazaquistão, onde viveu até 1936. Bakhtin continuou proibido de viver em grandes cidades e se estabeleceu em Saransk, isolado do circuito acadêmico e literário da União Soviética, trabalhando como professor em escolas públicas. O autor foi resgatado somente na década de 1960 por três estudantes de Moscou - Kójinov, Botcharov e Gátchev -, que o ajudaram a se reintegrar ao cenário intelectual do país e a editar suas obras: o ensaio sobre Dostoiévski foi revisto e publicado com o título Problemas da poética de Dostoievski (1963), e foram editadas sua tese de doutorado A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (1965) e a coletânea de ensaios Questões de literatura e estética (1975). Faleceu em Moscou, em 1975.


Sobre o tradutor
Paulo Bezerra estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, e foi professor de teoria da literatura na UERJ e de língua e literatura russa na USP. Livre-docente em Letras, leciona atualmente na Universidade Federal Fluminense. Já verteu diretamente do russo mais de quarenta obras nos campos da filosofia, psicologia, teoria literária e ficção, destacando-se suas premiadas traduções de Crime e castigoO idiotaOs demônios e Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski. Em 2012 recebeu do governo da Rússia a Medalha Púchkin, por sua contribuição na divulgação da cultura russa no exterior.